domingo, 15 de abril de 2012

Caldo e Poesia

Nesta semana, fui convidado a participar do grupo "Caldo & Poesia" que se reúne no Bar do Zé, na Vila Prudente, para tomar um caldo e mandar ver na Poesia!

Ainda não tive a oportunidade de aparecer por lá mas, já no espírito do negócio, compartilho com vocês a melancólica poesia de Fernando Pessoa que fala de amor e... dobradinha!!! Tudo a ver com este blog!


Dobrada à Moda do Porto
Álvaro de Campos


Um dia, num restaurante, fora do espaço e do tempo,
Serviram-me o amor como dobrada fria.
Disse delicadamente ao missionário da cozinha
Que a preferia quente,
Que a dobrada (e era à moda do Porto) nunca se come fria.



Impacientaram-se comigo.
Nunca se pode ter razão, nem num restaurante.
Não comi, não pedi outra coisa, paguei a conta,
E vim passear para toda a rua.



Quem sabe o que isto quer dizer?
Eu não sei, e foi comigo...



(Sei muito bem que na infância de toda a gente houve um jardim,
Particular ou público, ou do vizinho.
Sei muito bem que brincarmos era o dono dele.
E que a tristeza é de hoje).



Sei isso muitas vezes,
Mas, se eu pedi amor, porque é que me trouxeram
Dobrada à moda do Porto fria?
Não é prato que se possa comer frio,
Mas trouxeram-mo frio.
Não me queixei, mas estava frio,
Nunca se pode comer frio, mas veio frio.

2 comentários:

  1. Tudo a ver, Taka!
    Mesmo que a dobrada à moda do Porto tenha vindo fria, os versos de Fernando Pessoa estão sempre na quentura ideal.
    Grato por esta deliciosa homenagem ao Caldo & Poesia, cujo lema é "Alimento pro corpo e pra alma".

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  2. Obrigado, Osvaldo!
    Vou fazer deste lema o meu também!
    Um grande abraço!

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